BACIA ALAGOAS
Alagoas tem subsolo rico em minerais para baterias e carros elétricos
Estudo da SGB abre novas fronteiras para economia, mas também pode arruinar meio ambiente
Recente estudo do Serviço Geológico do Brasil (SGB), uma estatal ligada ao governo federal, mostra a presença de minerais estratégicos no subsolo alagoano que também podem ser usados para a produção de energia nuclear, baterias e carros elétricos, o que pode despertar o interesse de grandes investidores, como os chineses, e aumentar as receitas públicas com o pagamento de royalties, além da cobrança de impostos.
Mas também servir de alerta para possíveis danos ambientais, como o registrado com a Braskem na extração do sal-gema e que afundou bairros em Maceió, obrigando à realocação de 8.515 famílias, segundo números da mineradora. E a Mineradora Vale Verde em Craíbas, cujo estudo da Defesa Civil Estadual associa rachaduras em imóveis e problemas de saúde em moradores ao uso de explosivos na empresa que extrai e processa minério de cobre.
O Mapa Aerogeofísico da Bacia Alagoas, como o relatório do SGB classifica, anima o governo Paulo Dantas (MDB). O senador Renan Calheiros (MDB) pôs o assunto no radar da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, presidida por ele e que no dia 1º de julho vai debater e propor políticas para a exploração de minerais como nióbio, lítio e urânio.
“Lítio, nióbio, urânio e outros são objetos de cobiça e disputas geopolíticas no mundo em razão da sua utilização estratégica. Tenho dito, inclusive, que as reservas desses minerais são, verdadeiramente, outra camada de pré-sal, o motivo pelo qual decidimos propor a essa comissão esta discussão”, disse Renan no final do mês de maio.
O Brasil tem 10% das reservas mundiais destes minerais, hoje fundamentais nas áreas de tecnologia, militar e transição energética.
“Entre eles [os minerais encontrados em Alagoas], destacam-se o urânio (elemento radioativo usado na geração de energia nuclear), as terras-raras (grupo de metais essenciais para a produção de baterias, turbinas, carros elétricos e equipamentos eletrônicos), os fosfatos (fundamentais para a indústria de fertilizantes), argilas especiais como o caulim (utilizadas na cerâmica, na indústria cosmética e de papel), além de possíveis ocorrências de metais como cobre, ferro e manganês”, explica o geógrafo Thyago Lima, ao analisar os relatórios do SGB a pedido do EXTRA.
Segundo ele, a exploração desses recursos, se for adiante, pode aumentar a arrecadação, criar empregos qualificados, atrair investimentos internacionais e formar novas cadeias produtivas no Estado. “Pode também colocar o Brasil em posição estratégica no fornecimento de insumos minerais para a transição energética global — uma pauta prioritária nas próximas décadas”, analisa.
Mas existe o outro lado: “A exploração de qualquer recurso mineral abaixo ou próximo de áreas urbanas, sem o devido controle técnico, pode causar colapsos no solo, contaminações ambientais e desastres humanos. E Alagoas conhece esse risco de forma dolorosa”, detalha.
Por sua vez, o Governo Paulo Dantas ite que os estudos minerais destacando Alagoas devem receber bastante atenção nacional e internacional a curto e médio prazo. O presidente Lula, em recente viagem à China, construiu essa possibilidade; no início de abril o grupo chinês Baiyin comprou a mineradora Vale Verde por 420 milhões de dólares. E, na semana ada, uma missão do governo do Estado se juntou ao Consórcio Nordeste em viagem a países do Oriente Médio. Para os árabes, foi despertar o interesse de investidores da região no potencial das águas alagoanas. Canal do Sertão e o futuro leilão do bloco D, envolvendo Arapiraca e cidades vizinhas, pautaram alguns destes encontros.
Houve também tratativas sobre gás natural e energias renováveis, uma possível aproximação das fortunas árabes tanto do Canal do Sertão quanto do Bloco D do saneamento interessam mais – e principalmente – pela disposição do governo federal de apoiar leilões do tipo e estudos do BNDES abrindo os caminhos neste sentido. Além disso, o leilão do bloco D deverá acontecer, no máximo, até o ano que vem, ao menos nas discussões internas.